Formação ética dos profissionais de saúde

 

Repensar a formação dos profissionais de saúde, principalmente na dimensão ética do fazer cotidiano, é ponto fundamental na atualidade, visto que as transformações ocorrem numa escala incontrolável e as questões humanas estão fortemente condicionadas ao avanço técnico-científico revolucionário, levando o homem a mudanças no seu modo de pensar, de agir, de ser ético.

Avaliar o ensino de Bioética nas faculdades de medicina é um dos temas apresentados neste número da Revista Arquivos de Ciências da Saúde. É um importante passo para a reflexão, discussão e proposição de mudanças significativas na formação desses profissionais que, via de regra, são membros de alguma equipe constituída por outros profissionais de saúde.

Outro tema apresentado nesta edição é “A qualidade de vida no trabalho entre docentes de curso de graduação em enfermagem”. Este tema pode ampliar a reflexão sobre a formação dos profissionais de saúde, pois o ambiente acadêmico constitui-se em importante configuração da realidade de vida do educador e dos aspectos relacionados ao processo de trabalho docente, que se relacionam com a situação de saúde-doença 1.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) norteia os cursos superiores no Brasil. Na área da saúde, as resoluções específicas a cada profissão chamam a atenção para a necessidade da formação de profissionais capacitados para atuar com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, capazes de promover a saúde integral do ser humano e utilizando como fundamentação os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

Garantir a capacitação de profissionais com autonomia, responsabilidade, liberdade e discernimento para assegurar a integralidade da atenção à saúde com qualidade, eficiência e resolutibilidade, como preconizado pelas Diretrizes curriculares 2 é um desafio para as escolas/cursos. Uma tarefa complexa, uma vez que implica em mudanças no processo de formação que deve considerar a complexidade da forma de compreender o mundo, de reconhecer a ordem e a desordem, o único e o diverso, a estabilidade e a mudança 3.

A implementação da mudança exige prudência com a formação de um comportamento cotidiano ético e responsável, para o binômio educador-educando, na perspectiva da formação de atitudes imprescindíveis a todo cidadão profissional 4.

É importante vivenciar os princípios éticos da beneficência e não maleficência, da autonomia, da responsabilidade, da liberdade, da alteridade, da solidariedade e justiça durante todo o percurso acadêmico. Essa vivência ocorre na relação com o outro, nas relações coletivas.

As aulas teóricas podem se um ponto de partida, porém, devemos pensar que é no cotidiano da formação que se é possível potencializar o diálogo, a compreensão, o respeito, a liberdade e a solidariedade, ou seja, um agir pautado em uma relação entre as noções éticas e as situações vividas pelos sujeitos4 nos diversos cenários de ensino aprendizagem.

O que a sociedade, e nela nos incluímos, espera dos profissionais de saúde formados em nossos cursos/escolas? Meros depositários de noções abstratas ou sujeitos com habilidades e competências para o pleno exercício de uma profissão pautada nos preceitos éticos?

Que a leitura dos temas referidos neste volume da revista despertem um pensar reflexivo sobre as variâncias de dilemas da formação do profissional de saúde e a busca de referenciais para instrumentalizar tarefas de nosso cotidiano.

Que seja uma leitura na perspectiva de encontrar um sentido para uma formação ética, co-responsável entre o educador e o educando, perpassando as práticas do processo ensino-aprendizagem.

 

Profa. Dra. Maria de Fátima Farinha Martins Furlan

Professora do Departamento de Enfermagem Especializada

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

 

 

Referências Bibliográficas

1. Penteado RZ, Pereira IMTB. Qualidade de vida e saúde vocal de professores. Rev Saúde Pública 2007;41(2):236-43.

2. Fernandes JD, Xavier IM, Ceribelli MIPF, Bianco MHC, Maeda D, Rodrigues MVC. Diretrizes curriculares e estratégias para implantação de uma nova proposta pedagógica.  Rev Esc Enferm USP 2005;39(4):443-9.

3. Santos SSC. Pesquisa em enfermagem à luz da complexidade de Edgard Morin. Rev Bras Enferm 2003;56(6):687-9.

4. Fernandes JD, Rosa DOS, Vieira TT, Sadigursky D. Dimensão ética do fazer cotidiano no processo de formação do enfermeiro. Rev Esc Enfem USP 2008;42(2):369-403.