EDITORIAL
O uso indevido de álcool e drogas é um dos
maiores problemas de saúde pública do mundo. Dados do Escritório das Nações
Unidas para o Controle do Tráfico e Prevenção do Crime (UNODC) estimam que
aproximadamente 200 milhões de indivíduos com 15 anos ou mais tenham consumido
drogas ilícitas entre os anos de 2000 e 2001. Isto corresponde a 4,7% da
população mundial nesta faixa etária, sendo que a droga mais consumida é a
maconha. Em relação às substâncias lícitas, o cenário também é preocupante: dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS), revelam que aproximadamente 76,3 milhões
de pessoas possuem algum transtorno relacionado ao uso de bebidas alcoólicas e 1,3 bilhões são fumantes.
Mais do que simples dados estatísticos, estes números
estão muito ligados a vários problemas de diferentes áreas, por exemplo,
problemas físicos, psicológicos e sociais. Alem disso, câncer, cirrose, cardiopatias,
malformação congênita, distúrbios de aprendizagem, depressão, desintegração
familiar, violência doméstica e acidentes de trânsito são apenas algumas das
possíveis conseqüências do consumo abusivo e da dependência de drogas lícitas e
ilícitas.
Dentre as diversas faixas etárias, os jovens situam-se
no grupo de maior risco para o uso experimental e possível abuso de substancias
psicoativas. Corroborando este fato, nos últimos anos
diversos estudos têm demonstrado um crescente aumento do consumo de álcool por
jovens do sexo feminino e do consumo de drogas lícitas e ilícitas entre a
população universitária. Dentre as conseqüências, podemos citar o baixo
desempenho acadêmico, brigas, e a ocorrência de gravidez não planejada.
Diante deste grave cenário, posições distintas
são apresentadas por colegas que atuam na área da saúde. Algumas delas,
compreensivelmente motivadas pelo incomodo e pelo desejo de melhoria do quadro
geral, acabam se sustentando em idéias radicais, onde, em lugar de propostas
efetivas na área de saúde pública, acabam se sustentando em idéias
fundamentalistas e ingênuas, baseadas no pressuposto de que a simples proibição
das drogas lícitas e a repressão do consumo das drogas ilícitas poderiam levar
a abstinência de seu consumo.
Mas, o que então poderia ser feito diante desta
grave situação? De fato não existe uma
fórmula mágica para reverter rapidamente o quadro de pacientes que já são
dependentes químicos e que precisam de tratamento de qualidade tanto nos
serviços públicos quanto nas clínicas particulares. Porém, em se tratando de um
problema de saúde pública tão complexo, o investimento em programas de
prevenção ainda parece ser a melhor solução. Neste sentido, é importante
lembrar que nas últimas décadas, inúmeras pesquisas foram realizadas no sentido
de compreender a efetividade de programas de prevenção de álcool e drogas em
determinadas comunidades. Parte deste conhecimento foi condensado
em 10 princípios pelo National Institute on Drug
Abuse (NIDA). Estes princípios visam,
entre outros aspectos, a redução dos fatores de risco associados ao uso de
álcool e drogas e propõem a ampliação dos fatores protetores, tais como a
promoção de um relacionamento acolhedor com pelo menos uma pessoa. Eles ainda
enfatizam a importância do papel da família, escola e comunidade nos esforços
para retardar o primeiro contato do jovem com a droga e evitar que o consumo
esporádico se torne contínuo.
Por fim, é importante ressaltar a importância
do debate e da sinergia de esforços entre os diversos agentes envolvidos na
prevenção do uso prejudicial, abuso e dependência de álcool e drogas. O papel
da ciência e dos profissionais envolvidos no problema deve ser o de buscar
soluções efetivas e construtivas para o benefício da comunidade como um todo.
O artigo que a Revista apresenta na sua
pagina 91 reflete a preocupação do uso de drogas no ambiente universitário.
Esses jovens são os futuros lideres do pais e a
atenção quanto aos seus hábitos é obrigação de toda sociedade, mas
especialmente das instituições onde os jovens se formam, como as escolas e as
universidades.
Professor Associado de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina da USP